Conto: Amor no ponto de ônibus


Eu fiquei por tanto tempo sozinha que até me esqueci de como era ter alguém por perto. É
verdade, as vezes as coisas acontecem de uma forma tão dura que o que eu mais quis em certos momentos foi me enfiar embaixo das cobertas e nunca mais levantar assim eu evitava os olhares de desaprovação em minha direção. Acho que é aquela coisa de não seguir as regras, não ser como me pediam pra ser, mas só ser do jeito que eu sempre fui. Sempre me senti diferente das outras pessoas e isso de certo modo me fazia ser única. Esse meu jeito super hiper mega sensível de ser, acabou não agradando todas as pessoas, como eu já previa que aconteceria. Eu apenas acho estranho não se sensibilizar com algo que as pessoas atualmente já não dão tanta importância. O fato de ser a garota que sempre se entristece com algo que dizem contra ela, seja efeito do resultado das minhas relações amorosas.

Mas ai, de repente em uma sexta- feira de Setembro, estou naquele ponto de ônibus e um belo rapaz do meu lado resolve perguntar as horas para mim. Já tinha reparado no modo como ele me olhava de canto de olho, enquanto eu tentava me concentrar digitando em meu complicado smartphone. Eu estava impaciente, pois não estava conseguindo me associar com os novos aplicativos, o que me fez ficar mais irritada do que o normal.

Respondi o horário para ele, ainda tentando me concentrar no meu problema irritante de smartphone, o cara ainda me olhava e acabou soltando um " Tá difícil ai hein?" Olhei para ele e em qualquer outra situação eu teria sido grossa, ou teria ignorado sorrindo falsamente. Mas alguma coisa nele, me fez querer responder simpaticamente. Pode parecer loucura, mas eu me sentia atraída por aquele cara do ponto de ônibus. Tá bom, uma pontinha de atração só, bem pequenininha.

Muito. Estou quase desistindo e jogando esse celular no chão.

Acabo respondendo humildemente, com um tom meio desesperado e de socorro. Esse celular estava realmente me tirando do sério. Ele sorriu pra mim, e diferentemente do que eu achava ao invés de ficar na sua, me perguntou qual era o problema se oferecendo para me ajudar. Estremeci por dentro, ao ver seu  olhar cheio de intenções e o sorriso tão estonteante.

Cheguei perto dele hesitante e mostrei o celular torcendo internamente para que ele me ajudasse com aquilo que eu já estava tentando fazer há horas. Comecei a explicar o que queria fazer, ele parecia concentrado tentando resolver meu problema, notei um pequeno movimento em seus lábios, como se ele estivesse sorrindo. Aposto que internamente estava rindo de mim. Mal conseguia lidar com meu próprio smartphone. Ele demorou mais tempo do que esperado com meu celular nas mãos e eu podia sentir seu perfume embalando meu olfato com um veneno que percorre lentamente e passa por todos os lugares do meu corpo.

Depois de alguns minutos, o cara acabou resolvendo meu "pequeno" probleminha com o celular. Eu dei um largo sorriso querendo, mas não querendo impressioná-lo e o agradeci:

 Muito obrigada, você salvou meu dia.

Ele sorriu e pareceu pensar um pouco em algo que eu daria tudo pra saber o que é, sei lá porque mas no fundo estava extremamente ansiosa para saber o que estava achando de mim. Depois dessa pequena ajuda, engatamos uma conversa que eu achei que nem aconteceria, com assuntos aleatórios e muitos sorrisos a parte. Acabei até reclamando do recorde do ônibus aquele dia ao passar no ponto, porém enquanto eu esperava nem vi o tempo passar. Internamente eu torcia mais um pouco para ter um pouco mais de tempo de falar com ele. O ônibus finalmente chegou mas estava lotado, e eu não pude nem sair do lugar onde estava. Ele acabou desabafando, enquanto estávamos ali:

- Ferrou! É hoje que eu perco aula na facul.

- Assino embaixo dessa tragédia matutina- acabei respondendo- Na verdade, eu estava mesmo sem clima para estudar hoje. Talvez isso seja uma resposta do destino para eu não ir mesmo.

Não sei porque disse aquilo, mas com certeza ali, olhando pra ele tudo que eu mais queria era ficar mais um pouco do seu lado, menos estudar. Ele pareceu sorrir com os olhos:

- Ou talvez seja uma sugestão dele, para que você tome café comigo ali na padaria da esquina. Eu pago! Aceita?

Penso um pouco, enquanto ele me olha parecendo esperançoso. Eu poderia pensar em mil desculpas, poderia pensar em vários tipos diferentes de foras para dizer a ele. Mas em algum universo bizarro dentro da minha mente eu queria dizer sim. Ouvindo quase todos os meus instintos, solto um belo SIM, antes que eu me arrependa de não pensar. Mal eu sabia que aquele SIM, seria o primeiro de muitos que viriam em seguida. Desde convites a cinemas e ao pedido de namoro que viria depois de muitos encontros.

E foi assim em uma manhã que eu conheci o cara que teve a coragem de mostrar quem é de uma forma tão simples. Sem frases prontas e bobas, sem complicações. Ele se aproximou de mim parecendo não querer nada e acabou sendo tudo que eu penso agora. Ele me mostrou que o amor está por ai, a nossa volta, nos lugares que menos esperamos. Basta sermos mais abertos as situações que nos são colocadas e estarmos dispostos a dizer mais respostas positivas do que negativas.

E com o passar do tempo ao lado dele eu percebi que amar é confiar inteiramente. Porque ter medo de sofrer é mais do que comum.  É sentir os olhos brilhando com alegria, é querer cuidar e se sentir protegida a todo instante. É ser forte, ser do jeitinho que eu sou e ainda parecer perfeita aos olhos da pessoa ao meu lado. É agradar a ele e não ao mundo. O amor é tão simples, puro, inocente, bobo e pra lá de bonito. Talvez sejamos nós que complicamos tudo e transformamos isso em uma bola de neve desnecessária que nos atinge com força quando deixamos e quando não sabemos deixá-lo partir ou nascer novamente.

Versão Feminina do conto " Amor no ponto de ônibus" do blogueiro " Wesley Nery"

2 comentários:

  1. Ficou demais a versão feminina do texto do Wesley! Amei *-*
    Beijos
    http://donaisa.blogspot.com.br/

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  2. Conto super fofo *-*
    adorei o jeito simples e como tudo pode se encaixar no cotidiano.
    vou dar uma olhada na versão masculina também.
    http://www.viciodiario.com/

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